terça-feira, 25 de outubro de 2011

Figuras de Linguagens


    
 
     As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.
    As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A palavra empregada em sentido figurado, não- denotativo, passa a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo.

As figuras de linguagem classificam-se em:
a) figuras de palavras;
b) figuras de som;
c) figuras de pensamento;
d) figuras de sintaxe.

Figuras de palavra:

As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.

São figuras de palavras:

Comparação:

Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.

Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógico." (Chico Buarque);

"As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).

Metáfora:

Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.

Exemplo: "Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão." (Machado de Assis).

Metonímia:

Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:

- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice) de licor.
- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia / Com suor e com cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento." (Vinicius de Moraes).
- o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários.
- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.
- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica) ilumina o mundo.
- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).

Sinédoque:

Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:

- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o povo) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (parte das patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Carvalho)
- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista (todos os paulistas) é tímido; o carioca (todos os cariocas), atrevido.
- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum): Para os artistas ele foi um mecenas (protetor).

Catacrese:

A catacrese é um tipo de especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito estilístico." (Othon M. Garcia).

São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.

Sinestesia:

A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).

Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal." (Augusto Meyer)

Antonomásia: 

Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue.
Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.

Exemplos: "E ao rabi simples (Cristo), que a igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O Cisne de Mântua (= Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (= Napoleão)

Alegoria:

A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro metafórico.

Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente..." (Machado de Assis).

Figuras de som:

Chamam-se figuras de som os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura "imitar" sons produzidos por coisas ou seres.

As figuras de som são:

Aliteração:

Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.

Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque).

Assonância:

Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Exemplo: "Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque).

Paronomásia:

Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.

Exemplo: "Berro pelo aterro pelo desterro / berro por seu berro pelo seu erro / quero que você ganhe que você me apanhe / sou o seu bezerro gritando mamãe." (Caetano Veloso).

Onomatopéia:

Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.

Exemplo: "O silêncio fresco despenca das árvores. / Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados onde o guaxe passe rápido... / Vvvvvvvv... passou." (Mário de Andrade).

"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno." (Fernando Pessoa).

Figuras de pensamento:

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.

São figuras de pensamento:

Antítese:

Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.

Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal." (Rui Barbosa).

Apóstrofe:

Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão.

Exemplo: "Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?" (Castro Alves).

Paradoxo:

Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.

Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer;" (Camões)

Eufemismo:

Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.

Exemplo: "E pela paz derradeira (morte) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague". (Chico Buarque).

Gradação:

Ocorre gradação quando há uma seqüência de palavras que intensificam uma mesma idéia.

Exemplo: "Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo." (Castro Alves).

Hipérbole:

Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.

Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac).

Ironia:

Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

Exemplo: "Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: / um amor." (Mário de Andrade).

Prosopopéia:

Ocorre prosopopéia (ou animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários.

Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: "O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico..."

Exemplos: "... os rios vão carregando as queixas do caminho." (Raul Bopp)

Um frio inteligente (...) percorria o jardim..." (Clarice Lispector)

Perífrase:


Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear.

Exemplo: "Cidade maravilhosa / Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa / Coração do meu Brasil." (André Filho).

Figuras de sintaxe:

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões.

Elas podem ser construídas por:

a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.

Portanto, são figuras de construção ou sintaxe:

Assíndeto:

Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).

Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis).

Elipse:

Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.

Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...).

Zeugma:

Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.

Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes." (Zeugma do verbo: "e foram assassinados...") (Camilo Castelo Branco).

Anáfora:
Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.

Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só..." (Castro Alves).

Pleonasmo:

Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.

a) Pleonasmo literário:

É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quando em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira).

"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)

"Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa).

b) Pleonasmo vicioso:


É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.

Exemplos: subir para cima / entrar para dentro / repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia de sangue / monopólio exclusivo / breve alocução / principal protagonista.

Polissíndeto:

Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira).

Anástrofe:

Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).

Exemplo: "Tão leve estou (estou tão leve) que nem sombra tenho." (Mário Quintana).

Hipérbato:

Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.

Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " (As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Carlos Drummond de Andrade).

Sínquise:

Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.

Exemplo: "A grita se alevanta ao Céu, da gente. " (A grita da gente se alevanta ao Céu ) (Camões).

Hipálage:

Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase.

Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." (as lojas dos barbeiros loquazes.) (Eça de Queiros).

Anacoluto:

Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.

Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado).

Silepse:

Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada.

a) Silepse de gênero:

Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).

Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa).

b) Silepse de número:

Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).

Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto).

c) Silepse de pessoa:

Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.

Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis).

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